domingo, 24 de julho de 2011

Retratos da dor......



Viver dói - e como dói.
Tem dor que acompanha a gente a vida inteira , pelo simples fato
de estar existindo.
Mas....tem dor grudenta igual a clicletes no cabelo ,
que a gente arranca com as unhas lava , lava , passa detergente ,
põe para secar no sol e nada.
Ela continua grudada no fundo do coração , como uma cicatriz.
Basta cutucar que ela volta intensa , jorrando imprudente.
Tem dor..... que vai chegando com as perdas irreparáveis ,
como a do pai,da mãe , depois dos irmãos.
Na hora , a dor é tão invasiva que a gente não sabe ,
que parte do corpo não está doendo.
A dor da perda não tem lógica que dê conta ,
mas na verdade , é so o tempo mesmo.
Nos primeiros dias,
a gente acha que não vai conseguir sobreviver à dor ,
até que a alma arruma os própios recursos de cura ,
mas deixa tudo lá dentro , em alguma lugar escondido.
Mas esta dor espezinha de vez em quando ,
em uma data de aniversário , em comemorações como o Natal ,
Ano Novo , Dia das mães ou dos Pais.
Essa dor vai e volta , mesmo que o tempo vá
amenizando-a.
Tem dor..... que pede carona e não acha lugar de descer.
E´a dor de perder um sobrinho.
É  uma dor que não tem rumo certo. 
Fica ali do seu lado , sem saber para onde ir.
A doença de um grande amigo que esta distante ,
também é de doer até os ossos.
A dor é tanta que você precisa tentar se livrar dela.
Então vai para a casa , toma vinho,acende um incenso , mas nada,
ela esta lá te acompanhando , até que o vinho transborda
todas as emoções contidas e a gente esquece até que tem vizinhos,
e põe o som nas alturas e dá voltas , rodopia até ficar tonta e
se entupir de choro.
Tem dor.....andarilha também ,
que vive perambulando por suas sombras , sem encontrar nem mesmo
o facho de luz de uma lanterna , que sobrevive de loucuras e
por mais que saia de casa , ande , ande , ande ,
não passa nunca.
Não tem porta de saída para essa dor que é do outro ,
mas que fere sua alma , porque ele é parte da sua história , do
seu metabolismo, de suas emoções.
Tem dor..... que a gente nunca entende ,
acontece em qualquer esquina , como a de uma senhora
de cabelos brancos que não tem nem 70 anos , mas parece mais velha ,
e que pede a alguém que lhe arrume um táxi com um taxista
bem carinhoso e que não a maltrate.
Mas quem maltrata a senhora?  , pergunto.
E ela responde : Filho maltrata a gente demais.
E vai embora deixando aquela dor de não ter tido tempo  de tentar
uma conversa para acalmá-la.
Os olhos dela ficam doendo dentro da gente o dia inteiro.
Tem também....a dor de ver uma criança de 4 anos ,
cujos pais viajaram sem data para voltar.
Ver os olhos desta criança também dói na lama , nas entranhas.
E´uma dor abissal que agente não sabe onde vai dar ,
nem como resolver.Nem adotando esta criança afetivamente ,
vai resolver a dor dela , principalmente no Dia dos Pais ,
porque ela não sabe como nem para onde mandar o presente
que fez para êles na escola.
Essa é..... uma dor sem endereço.
Nem correio , nem e-mail podem resolver.
Nem que agente compartilhe todas as dores do mundo ,
não dá para fugir delas , varrê-las para fora da casa , ou
embarcá-las numa mala para um  país bem distante.
Elas vão junto com a gente,
grudadas que nem chicletes.

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